quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Exército se arma para a Copa


A Força pretende comprar até US$ 4,5 bilhões em mísseis e canhões para proteger estádios de ataques terroristas durante os jogos.

 

O rúgbi é o principal esporte da África do Sul. Em 1995, o país foi sede da Copa do Mundo de Rúgbi. O torneio foi cercado de grande simbolismo. Era o primeiro grande evento esportivo realizado no país, que pouco antes se libertara do regime do apartheid. O jogo final entre África do Sul e Nova Zelândia foi realizado no Ellis Park, em Johannesburgo, com a presença do então presidente, Nelson Mandela.

De repente, um jato Boeing 747 fez um voo rasante, não autorizado, sobre o estádio. O avião tinha a mensagem “Para frente, Springboks!” (um tipo de antílope, símbolo da seleção sul-africana) pintada nas asas. Quem assistiu ao filme Invictus, do diretor Clint Eastwood, conhece essa cena. Em 2014, o Brasil vai sediar uma Copa do Mundo de Futebol, o maior evento esportivo no país em décadas. Em sigilo, o Exército se prepara para tornar impossíveis surpresas como a da África do Sul.

O Exército iniciou uma licitação internacional para a compra de equipamentos de defesa antiaérea. A previsão é gastar de US$ 1,5 bilhão a US$ 4,5 bilhões em mísseis, canhões antiaéreos e radares para proteger contra atentados os estádios durante a Copa das Confederações, em 2013, os 64 jogos da Copa do Mundo de 2014 e as competições das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.


ÉPOCA teve acesso a um documento de 15 páginas de 26 de janeiro, com o selo “confidencial”, no qual o Comando Logístico do Exército detalha a fornecedores internacionais o Projeto do Sistema Integrado de Artilharia Antiaérea do Exército Brasileiro (Projeto Siaaeb). “(O projeto é) destinado à atualização do sistema existente, já bastante defasado, com vistas a atender às exigências da Estratégia Nacional de Defesa e às do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro, particularmente em face das obrigações decorrentes da realização no Brasil da Copa das Confederações, em 2013, da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos de 2016”, diz o texto.

Desde que terroristas da al-Qaeda sequestraram e jogaram dois aviões contra as torres do World Trade Center, e outro contra o prédio do Pentágono, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, os organizadores de grandes eventos esportivos internacionais adicionaram a exigência de proteção antiaérea ao planejamento s de segurança.
Nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, o Exército chinês cercou os principais centros de competição, inclusive o Estádio Ninho de Pássaro, com seus mais avançados equipamentos. A intenção dos militares brasileiros é aproveitar a oportunidade aberta pela Copa para modernizar a obsoleta força antiaérea nacional. O Exército pretende comprar cinco baterias de mísseis de médio alcance, mísseis de curto alcance, que podem ser lançados do ombro por um soldado, novos radares de detecção e centros de comunicação.


O investimento inclui a modernização de cinco grupos de artilharia antiaérea, equipados com canhões de 35 mm e 40 mm, adquiridos ainda nas décadas de 1970 e 1980. O Exército também vai comprar canhões antiaéreos de calibre 30 mm e complexos de mísseis de curto raio de ação para os novos veículos blindados Guarani e os velhos blindados M-113, usados na ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Os velhos canhões antiaéreos ganharão novos motores elétricos, geradores e sistemas de comunicação em rede de última geração.

É notório que os equipamentos das Forças Armadas brasileiras estão superados. Nas últimas duas décadas, os governos gastaram pouco em armamentos, o que obriga os militares a reciclar e consertar velharias. Hoje, quatro dos cinco grupos vinculados à 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea, espalhados pelo país, estão equipados com canhões de 40 mm de calibre e centrais que comandam os sistemas de radar e tiro. Eles foram construídos pela Avibras na década de 1980.

O 1º Grupo de Artilharia Antiaérea, no Rio, usa canhões de 35 mm recebidos em 1977. Uma comparação serve também para mostrar a dimensão do despreparo do Brasil, tanto em qualidade quanto em quantidade. Enquanto o Exército e a Força Aérea Brasileira (FAB) são obrigados a compartilhar cerca de 160 mísseis russos Igla (que podem ser lançados dos ombros por um soldado), o Exército da antiga Iugoslávia disparou mais de 1.000 mísseis desses apenas no primeiro dia das operações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Kosovo, em 1999. Na América Latina, os especialistas avaliam que apenas a Venezuela possui uma defesa antiaérea adequada, comprada da Rússia.

O sistema que o Exército quer estabelecer na Copa e nas Olimpíadas empregará cerca de 4 mil homens. A cada jogo, o espaço aéreo perto do estádio será fechado pela Aeronáutica. Cerca de 200 homens estarão envolvidos diretamente na defesa aérea e outros 400 darão apoio. Canhões, baterias antiaéreas e homens armados com lançadores de mísseis serão colocados em posições estratégicas do lado de fora dos estádios.

Em um ponto mais alto, será instalado um radar para detectar qualquer movimento nos céus. Em caso de ataque, os primeiros a entrar em ação serão mísseis antiaéreos de médio alcance, que podem derrubar intrusos a até 12 quilômetros. Se um eventual invasor conseguir passar incólume, os canhões ficarão encarregados do alvo. A última linha de defesa será feita por soldados equipados com mísseis que podem ser lançados do ombro, capazes de atingir alvos a até 5 quilômetros de distância. O tempo de destruição de um alvo não poderá ultrapassar 12 segundos.

Há dois anos o Exército estuda o assunto. Trinta e sete fornecedores foram consultados e 27 empresas da China, da França, dos Estados Unidos, da Suécia e da Rússia responderam. Uma comissão analisa o material recebido das empresas. A assinatura dos contratos está marcada para 16 de novembro. O Exército exige que as empresas concorrentes se comprometam a nacionalizar a produção das armas em oito anos.

Para cumprir o cronograma imposto pela Fifa, todo o sistema precisa estar pronto para operar em janeiro de 2014. Por se tratar de uma despesa para a Copa, a despesa com os equipamentos está livre dos cortes de R$ 50 bilhões do orçamento da União, estabelecidos pelo governo federal. Esse freio segurou, por exemplo, a compra de novos caças para a Aeronáutica e de fragatas e barcos patrulheiros para a Marinha.

Caso não consiga reequipar sua defesa aérea dentro do prazo, o governo terá de contratar um país que preste o serviço. Em 2010, a África do Sul preferiu essa alternativa: pagou cerca de US$ 1 bilhão para as forças armadas de Israel protegerem seus estádios na Copa do Mundo. Mas, por enquanto, essa alternativa ainda não está na mesa.

Fonte: Revista Epoca




 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Bombeiros do Rio seguem acampados na Assembleia Legislativa do Estado

Após prisão de 439 integrantes, categoria continua a protestar por melhores salários

 

Após um protesto que tomou o Quartel Central na Praça da República, centro do Rio, que terminou com 439 presos na manhã do último sábado, os bombeiros voltaram às ruas em manifestação por melhores salários e, na noite deste domingo, bloquearam a Ponte Rio-Niterói, principal ligação entre a capital fluminense e o município vizinho, por cerca de 15 minutos, de acordo acordo com a concessionária CCR, administradora da via.

Segundo a empresa, cerca de 70 manifestantes saíram de três ônibus e ficaram no vão central, sendo logo reprimidos por funcionários e policiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) quando tentavam afixar faixas e cartazes letreiros da ponte usados normalmente para sinalizar condições de trânsito.
O grupo de bombeiros era proveniente dos municípios de Araruama, Búzios, Cabo Frio, Rio das Ostras, localizados na região dos Lagos.

A reportagem do iG entrou em contato com Cabo Gomes, preso no sábado e levado para Jurujuba, na região metropolitana, que informou que os manifestantes que pararam a ponte nesta noite voltavam de visita aos detidos pela invasão do quartel.

O militar também denuncia maus tratos na detenção e reclama que o grupo ficou por mais de 18 horas sem comida desde o momento da invasão do quartel por membros do batalhão de choque da Polícia Militar e do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

“Tivemos que fazer um S.O.S. humano usando todos os nossos companheiros agachados em um grande campo de futebol, pois estávamos sem alimentação, sem água e autorização para utilizar sequer um banheiro. Somos trabalhadores, militares e exigimos respeito dos nossos governantes”, declara, concluindo que recebe cerca de R$ 950 o que configuraria, em suas palavras, “o menor salário de bombeiro do Brasil”.

Na capital, mais bombeiros promovem desde o início da manhã um acampamento em frente à Assembleia Legislativa do Estado. Eles prometem ficar aquartelados e dizem sair apenas em casos de extrema urgência.

Neste domingo, o governador do Estado, Sérgio Cabral, divulgou nota reiterando sua desaprovação à forma como a categoria se manifestou na tentativa de elevar o piso salarial de R$ 950 para R$ 2 mil. No sábado, Cabral havia chamado os detidos de “vândalos e irresponsáveis”.

Na nota emitida neste domingo, o governador novamente qualifica como irresponsabilidade as atitudes dos bombeiros, ressaltando que os manifestantes levaram “marretas e crianças” para o mesmo local. E diz ainda que são 17 mil bombeiros no Estado “que honram a sua farda jamais levariam crianças como escudos humanos inocentes a um ato contra a ordem pública como este, iniciado com uma invasão do quartel central”.

FONTE: iG* Com reportagem de Vinícius de Oliveira, iG São Paulo


 

PM invade quartel do Corpo de Bombeiros para reprimir manifestantes em protesto por salários



O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) invadiu pouco antes das 7h deste sábado o QG do Corpo de Bombeiros, que estava há cerca de 13 horas ocupado por militares da corporação em protesto por melhores salários.


Os PMs explodiram o portão dos fundos do quartel, na rua do Senado, deram tiros de efeito moral e jogaram bombas de gás lacrimogênio que atingiram os manifestantes e jornalistas dentro quartel e na rua. Pessoas saíram sangrando e a situação ficou muito tensa no local.

Houve barulho de tiros de fuzil que, segundo os bombeiros, foram dados para o alto. Três dos líderes do movimento foram presos e encaminhados para o Batalhão de Choque. Alguns bombeiros saíram feridos do quartel com marcas de tiros de balas de efeito moral.

Segundo os manifestantes que ocuparam o QG do Corpo de Bombeiros, cinco crianças saíram feridas devido ao gás lacrimogênio e estão sendo medicadas no Hospital Souza Aguiar. Uma das crianças pediu aos policiais que parassem de jogar o “gás maldito”. Ainda segundo eles, há feridos dentro do quartel.


Mas o secretário Municipal de Saúde, Hans Dohmann, afirmou que somente uma criança, que inalou fumaça, foi atendida no Hospital Souza Aguiar. Ainda de acordo com o secretário, por volta das 6h30 da manhã, um grupo de mulheres com cerca de cinco crianças chegou a procurar a emergência do hospital, mas as crianças não estavam feridas, apenas nervosas, e foram embora. De acordo com o secretário, até agora não houve nenhum outro registro de atendimento relacionado a este caso na rede municipal de saúde.

Os manifestantes se queixaram da violência usada pela PM para dissolver a manifestação na manhã deste sábado e informaram que 12 manifestantes foram presos e estão sendo levados para o Batalhão de Choque. O protesto deve seguir daqui a pouco para uma nova manifestação na porta da Alerj.

No momento, policiais do Bope, do Batalhão de Choque e da cavalaria estão no local. As ruas no entorno do QG estão bloqueadas e a Praça da República está cercada por PMs. Manifestantes que protestavam junto à grade em frente ao QG dos Bombeiros, dentro do Passeio Público, estão sendo dispersados por policiais da cavalaria da PM.

No momento seis micro-ônibus com bombeiros presos estão saindo de dentro do quartel para o Batalhão de Choque.

O governador Sérgio Cabral reúne-se com equipe de seu Governo nesta manhã, no Palácio Guanabara (prédio anexo), onde, em seguida, por volta das 8h30, deve acontecer uma entrevista coletiva.

FONTE: O Globo / FOTO: Marcelo Carnaval